O sofrimento humano é um tema constante nas Escrituras. Mas no Novo Testamento, ele ganha ainda mais profundidade: Deus não apenas vê a dor, Ele a experimenta em Cristo. Os evangelistas usaram palavras gregas precisas e impactantes para retratar não só o sofrimento humano, mas também a empatia divina diante da dor.
Neste artigo, vamos explorar essas expressões de tristeza, pranto e angústia usadas no Novo Testamento e o que elas revelam sobre a compaixão de Jesus.
Brugmós: ranger dos dentes
Uma das imagens mais fortes ligadas ao juízo é o “ranger de dentes”, traduzido do termo grego brugmós. Jesus a usou para descrever a angústia daqueles que rejeitam a salvação (Mateus 8:12; 13:42). Mas esse ranger não é apenas de dor física. Ele também carrega a ideia de raiva, frustração, revolta — uma dor intensa, emocional e espiritual.
Trêneô, Klaiô e Klauthmós
No vocabulário do choro, o Novo Testamento é rico:
Trêneô – significa lamentar com canto, como em um funeral. É o tipo de lamento tradicional que ecoava nas praças e ruas (Mateus 11:17; Lucas 7:32).
Klaiô – um termo mais comum para chorar ou soluçar em voz alta. Foi usado para descrever o choro de Pedro ao negar Jesus (Mateus 26:75), das mulheres na Via Dolorosa (Lucas 23:27) e até mesmo o choro de Paulo (Atos 21:13).
Klauthmós – é o pranto profundo, de coração partido. Uma expressão da dor que vai além das lágrimas. Aparece, por exemplo, em Atos 20:37, quando Paulo se despede dos irmãos.
Esses termos nos mostram que o sofrimento humano é abordado com respeito e profundidade no texto bíblico. Deus se importa com nossas lágrimas.
Lupeô e Parassô: a dor que Jesus sentiu
Quando o texto se refere diretamente ao sofrimento de Jesus, os evangelistas usam termos ainda mais intensos.
Parassô – significa “ficar profundamente angustiado, perturbado, em agonia”. João 11:33 diz que Jesus ficou profundamente comovido e perturbado diante da morte de Lázaro — um momento em que Deus chorou (João 11:35).
Lupeô – vem da palavra lupé, que significa “dor” tanto física quanto emocional. Ela é usada em Mateus 26:37, quando Jesus diz que sua alma estava profundamente triste até a morte. Em outras palavras, Jesus estava em colapso emocional.
Essas palavras não foram usadas por acaso. Elas nos dizem claramente: Jesus não era um observador frio do sofrimento humano. Ele sentiu tudo e sentiu conosco.
Quando o céu chorou com a terra
Em Mateus 17:23, lemos:
“E matá-lo-ão, e ao terceiro dia ressuscitará. E eles se entristeceram grandemente.”
Os discípulos sentiram o golpe da morte iminente de Jesus. Mas o próprio Cristo também se entristeceu profundamente ao ver os caminhos da cruz se aproximando.
Esse é um dos maiores mistérios da fé cristã: o Deus que chora. O Deus que encarnou não apenas para salvar, mas para sentir.
A empatia divina
A Bíblia não pinta um quadro de um Deus distante, impassível ao sofrimento de sua criação. Pelo contrário: o Deus da cruz é o Deus das lágrimas.
Jesus sentiu:
A perda de um amigo (João 11);
A traição de um discípulo (Mateus 26:25);
A rejeição de seu povo (Lucas 19:41);
O peso do pecado do mundo (Mateus 26:38).
Tudo isso com alma humana e coração divino. É por isso que Hebreus 4:15 nos lembra:
“Temos um Sumo Sacerdote que pode se compadecer das nossas fraquezas.”
O sofrimento de Cristo nos mostra que o céu conhece a dor da terra. Ele é Deus conosco, em nossas lágrimas, em nossos momentos mais escuros, e na esperança de consolo que só Ele pode oferecer.
Se você está vivendo tempos de dor, lembre-se: Cristo também chorou, Ele está contigo e espera te encontrar em breve, para viver em um lugar que não existirá mais pranto.